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30 de Mai de 2025
COP30: agricultura regenerativa pode gerar até 100 bilhões de dólares só no Cerrado
Iniciativa pioneira, que será apresentada na conferência do clima, acelera práticas para evitar a degradação do solo, reduzir emissões de carbono e elevar produtividade no campo
Por Andrea Freitas (especial para O GLOBO)
30/05/2025 03h30 Atualizado há 4 horas
A agricultura regenerativa, nome dado para um conjunto de técnicas que buscam reverter processos de degradação do solo, reduzindo danos ambientais e gerando maior produtividade, vem sendo apontada como uma forma de se evitar emissões de carbono e minimizar a mudança climática. Para acelerar sua adoção e fomentar o uso sustentável da terra, o Cerrado se tornou o primeiro bioma do mundo a receber o Landscape Accelerator - Brazil (LAB), uma iniciativa liderada pelo Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) e o Boston Consulting Group (BCG), com apoio técnico do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O programa faz parte da Action Agenda on Regenerative Landscape, lançada na COP28, em Dubai, e está alinhado à Declaração de Sistemas Alimentares, que, no mesmo encontro, abordou pela primeira vez a necessidade de transformar sistemas alimentares para enfrentar a crise climática, a perda de biodiversidade e a desigualdade.
- Foi essa agenda que inaugurou o modelo do acelerador. E o Brasil foi escolhido para lançar o primeiro - explica Juliana Lopes, diretora do Cebds, acrescentando que o resultado do trabalho, iniciado neste ano, será apresentado na COP30, em novembro, em Belém. - O LAB também é uma prova de conceito para replicar essa experiência em outros países, como a Índia. Tem o objetivo de ser um agregador, conseguir, em um ambiente pré-competitivo, superar as barreiras que hoje dificultam as práticas regenerativas.
Além de reduzir emissões, as práticas regenerativas têm o objetivo de gerar valor econômico para produtores e investidores. Com 198 milhões de hectares, o Cerrado é responsável por 25% da produção global de soja, assim como por 97% do algodão, 66% do milho e 44% do gado do Brasil. Também abriga 5% das espécies de animais e plantas do planeta. É a savana mais biodiversa do mundo.
Estudo feito pelo BCG, com a colaboração técnica de Mapa, WBCSD e Cebds, mostrou que é possível adotar práticas regenerativas em 32,3 milhões de hectares do Cerrado, área equivalente ao tamanho da Noruega, com o potencial de gerar US$ 100 bilhões à economia. O relatório calcula ainda que, para transformar esse bioma em uma referência global em agricultura regenerativa, são necessários US$ 55 bilhões até 2050, com retorno de investimento da ordem de 19% num prazo médio de cinco anos.
- Ao manejar melhor o espaço, você consegue gerar sustentabilidade e eficiência. E a adoção das práticas regenerativas inclui a recuperação de pastagens degradadas para a lavoura, a integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas agroflorestais ou consórcio de espécies, plantio direto e todo um conjunto de práticas que têm potencial de geração de valor econômico de US$ 100 bilhões - afirma Juliana.
O estudo foi apresentado no Cerrado Summit, um evento oficial pré-COP30, nos dias 15 e 16 de abril, em Luís Eduardo Magalhães (BA), que reuniu 140 participantes de diversos países, representantes de instituições financeiras e de empresas nacionais e multinacionais, além de produtores rurais e associações.
- A gente lançou um convite à ação, de mobilizar US$ 3 bilhões de financiamento exclusivamente privado até 2030 para a transição de paisagens regenerativas. Esse valor seria o gatilho, o que vai desencadear essa transição e permitir que o capital restante venha - diz a diretora do Cebds, que acompanha um estudo para adotar o mesmo tipo de abordagem no bioma amazônico no Pará, previsto para ser apresentado no início de julho.
Maior produtividade
A Bayer é uma das empresas com programa próprio que participam do LAB e que estiveram no Cerrado Summit. Criado em 2020, o PRO Carbono tem o objetivo de promover a transição para a agricultura regenerativa, com a implementação de práticas de manejo conservacionista, calculando e reduzindo a pegada de carbono nas operações de commodities agrícolas.
O programa reúne mais de 1,9 mil produtores em 16 estados, abarcando 220 mil hectares de soja, milho, algodão, e plantas de cobertura, como sorgo e aveia. Segundo a gigante de origem alemã, a adoção das práticas de agricultura regenerativa recomendadas gera, em média, produtividade 11% maior e mais 16% no sequestro de carbono.
A Nestlé, que também participa do LAB e esteve no encontro no interior baiano, tem há mais de dez anos programas próprios de sustentabilidade nas cadeias de suas principais matérias-primas - leite fresco, café e cacau - que foram adaptados às práticas regenerativas, e incluem mais de 10 mil produtores em diferentes estados.
O principal apoio ao produtor, conta Bárbara Sollero, head de agricultura regenerativa da Nestlé Brasil, é o e técnico, com especialistas que visitam as fazendas e dão consultoria de melhores práticas de manejo da lavoura. De 2021 a 2025, a Nestlé destinou globalmente 1,2 bilhão de francos suíços em projetos de agricultura regenerativa.
Esses programas classificam cada fazenda de acordo com o nível de práticas implementadas, mas não apenas em termos de agricultura regenerativa, incluindo também bem-estar animal e direitos humanos. Na cadeia do leite, por exemplo, um grupo de 900 fazendas, que são consideradas padrão ouro, conseguem em uma mesma área uma silagem de milho 8% maior, com 18% menos emissão de carbono e rentabilidade 15% maior.
- O compromisso global é de implementar a agricultura regenerativa em 25% das principais matérias-primas em 2025. Desafios vão mudando de patamar. No Brasil, em 2024, já chegamos a 41%. Os programas vêm ajudando, mas a gente precisa incrementar esse e para engajar mais produtores - conta Bárbara.
(*especial para O GLOBO)
https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/05/30/cop3…
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