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Energia solar fica mais competitiva no país

FSP, Mercado, p. B1, B4
05 de Nov de 2011

Energia solar fica mais competitiva no país
Preço dos painéis fotovoltaicos recua, viabiliza projetos e expande capacidade instalada no planeta em 74%
Projeto-piloto com 6 distribuidoras de energia em 2012 pode levar à desoneração de equipamentos

Claudio Angelo
Sofia Fernandes
De Brasília

A energia solar, renovável que mais cresce no mundo, começará a ganhar incentivos do governo para sua adoção no Brasil -embora de forma muito mais tímida do que ocorreu com a eólica.
Seis distribuidoras de energia devem iniciar projeto-piloto de geração solar em 2012.
A ideia é aplicar um plano da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para que donos de painéis fotovoltaicos liguem suas instalações na rede e troquem energia com as concessionárias.
Se a experiência der certo, o governo começará a estudar a desoneração tributária de equipamentos do setor.
Até agora, a energia solar tem sido deixada de molho no país, sob a alegação de custos altos demais.
Esse quadro mudou: hoje o megawatt-hora fotovoltaico tem custo ao consumidor estimado de R$ 500 a R$ 600, o mesmo ou menos do que pagam os usuários de energia convencional de 31 distribuidoras em Estados como Mato Grosso e Minas Gerais.
O preço dos painéis fotovoltaicos tem despencado -caiu 50% somente no último ano. Isso fez com que a capacidade instalada no planeta crescesse 74% em 2009 e 2010. A eólica aumentou 26% no período, segundo o relatório "Renewables 2011".
"O que acontece com a solar é o que ocorreu com a eólica. Ela fica mais competitiva", diz Ivan Cardoso, diretor de distribuição da Aneel.
O modelo que o governo pretende implantar é o chamado "net metering". Ele consiste em medidores inteligentes instalados entre o solar e a ligação elétrica de uma casa. De dia, eles permitem que o jogue energia na rede. À noite, que a rede alimente a residência.
Para isso, será preciso obrigar as distribuidoras a fazer a conexão. As empresas hesitam, alegando problemas de segurança na rede.
O incentivo é um o aquém do modelo adotado em países como Japão e Alemanha, a chamada tarifa "feed-in", pela qual o gerador de energia solar pode vender seu excedente para a rede.
"O 'feed-in' seria a melhor opção, mas a Aneel quer usar escambo de energia, como nos EUA", diz Antônio Granadeiro, presidente da Abeer (Associação Brasileira das Empresas de Energia Renovável). Ele comemora, porém, a adoção do "net metering". "Melhor do que nada."

QUEIXAS DA INDÚSTRIA
As indústrias se queixam da tributação. Baterias e inversores representam a maioria do custo de uma instalação e pagam, no caso dos inversores, 60% de imposto.
"Não há um Proinfa para solar", diz Granadeiro, citando o programa de subsídios e a desoneração que permitiu que a energia eólica se expandisse no país.
O governo pede calma. Segundo Altino Ventura, secretário de planejamento e desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, é preciso primeiro ver como o piloto vai funcionar.
O teste será feito em São Paulo (com a distribuidora EDP Bandeirante), no Rio (com a Light), no Rio Grande do Sul (CEEE), em Santa Catarina (Celesc), no Pará (Celpa) e em Minas (Cemig).
A ideia é aferir o medidor inteligente a ser usado no país e o modelo de relacionamento entre o microprodutor de energia e a distribuidora.
Ventura afirma que o incentivo deverá favorecer indústrias instaladas no país. Coreia, Espanha, Japão e Alemanha têm prospectado oportunidades no Brasil.

Copa deve impulsionar maior uso de energia solar
Fifa recomenda a adoção de painéis fotovoltaicos nos estádios do evento
Oportunidade de país se tornar fabricante de painéis ou, mas ainda pode fornecer componentes

De Brasília

A Copa-2014 deve ajudar a impulsionar a energia solar no Brasil. Por recomendação da Fifa, os estádios do mundial terão de ser alimentados por painéis desse gênero.
Estados como o Rio de Janeiro querem aproveitar a oportunidade para atrair investimentos no setor. Em setembro, o governador Sérgio Cabral decretou isenção de ICMS aos equipamentos para instalações fotovoltaicas.
Hoje só os painéis solares contam com isenção de impostos, mas eles representam apenas 30% do custo de uma instalação -o resto fica por conta da eletrônica.
O Rio espera, agora, autorização da Aneel e da Light para conectar instalações solares na rede para dois programas: um que ligará painéis fotovoltaicos em escolas públicas e outro que abastecerá o campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com 1 megawatt de eletricidade solar.
"A ideia é criar um mercado e depois destrinchar a cadeia, para que a gente se torne um polo de energia renovável", afirma a subsecretária de Economia Verde do Rio, Suzana Kahn Ribeiro.
Ribeiro, que é membro do IPCC (o do clima das Nações Unidas), diz que o Brasil já perdeu a janela de oportunidade para se tornar um fabricante de painéis. "Hoje eles são quase todos feitos na Ásia e não dá para competir com o custo."
Porém, afirma, o país ainda pode se tornar um fornecedor de componentes eletrônicos e de silício ultrapuro, ingrediente fundamental das placas fotovoltaicas.
"Nós exportamos silício para metalurgia, mas o de grau [de pureza] solar vale cem vezes mais e o mercado cresce 40% ao ano."
O secretário de Energia do Estado, Júlio Bueno, deve pedir na próxima reunião do Conselho Nacional de Secretários de Energia a criação de regras próprias para a fotovoltaica em leilões e que isente os painéis solares de IPI.
"É preciso criar uma corrida própria" para essa energia, disse Bueno à Folha.
O mercado fotovoltaico hoje no país é desprezível. Apenas uma usina solar foi instalada no país: a de Tauá (CE) da MPX, empresa de energia do Grupo EBX. (Claudio Angelo e Sofia Fernandes)

FSP, 05/11/2011, Mercado, p. B1, B4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0511201101.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0511201102.htm

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